Sucessão na CBF: falar em renovação é rir da cara do torcedor de futebol 274g5f
Candidato único à presidência é beneficiado por sistema de proteção entre CBF e federações. Juventude não é garantia de mudança 5w366i
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Publicado em: 19/05/2025 às 15h24Estava aberto o caminho para uma mudança na CBF. O presidente derretia, os clubes evidenciavam sua insatisfação, havia esgotamento da opinião pública com a politicagem que contamina a entidade, chegava um treinador novo. Mas a CBF está sempre de prontidão para reforçar a sabedoria popular: de onde menos se espera é que não vem nada.
Samir Xaud, 41 anos, é candidato único e deve ser eleito o sucessor de Ednaldo Rodrigues. Ele vem de Roraima, um dos estados menos relevantes do futebol brasileiro. Lá, é presidente eleito da Federação Roraimense. Detalhe: para substituir seu pai, que está no cargo há 50 anos (desde quando o Brasil ainda era um tricampeão mundial).
Xaud conseguiu registrar candidatura única graças ao sistema de proteção estabelecido entre CBF e federações estaduais. Ele teve o apoio de 25 das 27 federações, além de dez clubes das Séries A e B. A união dos poderes regionais em torno dele impediu que se formasse concorrência, já que um candidato precisa ter o e de pelo menos oito federações e cinco clubes para lançar chapa.
Esse sistema é um dos maiores vícios da CBF. Ele esteve no coração da reeleição, por unanimidade, de Ednaldo Rodrigues – regada a muito dinheiro saído da CBF para os cofres das federações. Ele também impediu um movimento dos clubes em torno de outra candidatura – no caso, de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, que angariou o apoio de cerca de 30 clubes.
Por tudo isso, falar em renovação é rir da cara do torcedor. O fato de Xaud ser jovem não garante mudança. O problema é muito maior. Presidentes se sucedem a cada punhado de anos, a cada novo escândalo (de corrupção, de assédio sexual, de falsificação de ), enquanto o que realmente importa, a política interna da CBF, mantém a estrutura coronelista que a sustenta.
É muito desanimador. A sensação é aquela típica de quem vive o absurdo: ver o desastre se aproximando e se sentir imobilizado – não poder fazer nada. O desastre, aqui, é a manutenção da CBF como ela é. É a perpetuação do atraso. É ver uma eleição tão importante ser decidida em chapa única.
Samir Xaud tem direito a um voto de confiança. Tomara que consiga, quando for confirmado presidente, na próxima segunda-feira, iniciar um momento de melhorias na entidade, como vem prometendo. Mas tenho enorme dificuldade em acreditar nisso, especialmente quando olho para seus vice-presidentes: um deputado estadual que acumula a presidência da Federação Amazonense, um filho de José Sarney, um homem que está desde 2007 como presidente da Federação do Rio Grande do Norte…
E o reflexo de tudo isso está dentro de campo: nas arbitragens, nos gramados, nos jogadores cansados ou lesionados por causa da insensatez do calendário, em mais uma rodada muito fraca de Campeonato Brasileiro – mesmo com a realização de quatro clássicos regionais. E em uma Seleção que, a um ano da Copa do Mundo, recomeça do zero.